sábado, 1 de maio de 2010

CANTO FÚNEBRE, de Edna St.Vincent Millay

CANTO FÚNEBRE


Não me resigno que na dura terra amantes corações sejam encerrados.
Assim é e assim será, como sempre foi na era mais distanciada:
Para as trevas lá vão os sábios e os belos. Coroados
De lírios ou de louros, lá vão; mas não estou resignada.

Contigo, dentro da terra, amantes e pensadores
Misturam-se com o pó anônimo revolvido.
Um fragmento do que conheces, de tuas dores,
Uma fórmula, uma frase rica, -- mas o melhor está perdido.


A resposta aguda e pronta, o riso, o amor, o olhar, o gesto.
Foram-se para alimentar as rosas. Belo e jucundo
É o lírio. Cheirosa é a rosa. Bem sei, mas protesto.
Mais preciosa era a luz em teus olhos do que todas as rosas do mundo.


Dentro, lá dentro no fundo das trevas da morte
Vão ter o belo, o meigo, o bom. No Silêncio do nada
Vão desaparecer o inteligente, o gracioso, o forte
Eu sei. Mas não aprovo. E não estou resignada.

Edna St.Vincent Millay
Tradução: Alphonsus de Guimarães Filho

3 comentários:

  1. Cara Juracy, obrigado e parabéns por disponibilizar esta bela tradução do filho do grande Alphonsus (...em lúgubres responsos) deste belíssimo poema deste talento chamado Edna St.Vincent Millay. Há uma versão também muito bonita do também falecido Jorge Wanderley, mas tudo somado, é muito pouco diante da grande produção de Millay. Obrigado de novo.

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  2. Olá, Cassio.
    Obrigada pela visita ao blog.
    Gostaria de conhecer a versão de Jorge Wanderley.
    Lindo poema, sim. Foi fundamental a releitura, quando meu marido morreu aos 31.
    Vou procurar no Google.
    Grande abraço,
    Jura.

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    1. Cara Juracy,
      Abaixo, tomo a liberdade de te enviar, a versão de Carlos Drummond de Andrade. Você já deve conhecer mas...seja o que Deus quiser, quem sabe não conhece? E sinto muito pela perda de seu marido com tão pouca idade. A vida não é fácil...
      Um grande abraço,
      Cássio

      CANTO FÚNEBRE SEM MÚSICA

      Não me conformo em ver baixarem à terra dura os corações amorosos,
      É assim, assim há de ser, pois assim tem sido desde tempos imemoriais:
      Partem para a treva os sábios e os encantadores. Coroados
      de louros e de lírios, partem; porém não me conformo com isso.

      Amantes, pensadores, misturados com a terra!
      Unificados com a triste, indistinta poeira.
      Um fragmento do que sentíeis, do que sabíeis,
      uma fórmula, uma frase resta — porém o melhor se perdeu.

      As réplicas vivas, rápidas, o olhar sincero, o riso, o amor
      foram-se embora. Foram-se para alimento das rosas. Elegante, ondulosa
      é a flor. Perfumada é a flor. Eu sei. Porém não estou de acordo.
      Mais preciosa era a luz em vossos olhos do que todas as rosas do mundo.

      Vão baixando, baixando, baixando à escuridão do túmulo
      suavemente, os belos, os carinhosos, os bons.
      Tranquilamente baixam os espirituosos, os engraçados, os valorosos.
      Eu sei. Porém não estou de acordo. E não me conformo.

      Tradução: Carlos Drummond de Andrade

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