domingo, 9 de maio de 2010

SONHO DE CONSUMO, conto de Márcio Almeida

                   SONHO DE CONSUMO


Quando começou a comprar almas, o diabo inventou a sociedade de consumo.
                  Millôr Fernandes
O mundo está tão louco que só a ficção dá conta da análise política.
                  Arnaldo Jabor


O Apresentador: Foram inscritas 6 propostas oníricas de consumo e pelas regras estabelecidas uma será sorteada agora e realizada em seguida com a anuência de todos os concorrentes. Todas as propostas serão dadas a conhecimento de todos. Após a definição da vencedora, a galera poderá se manifestar para ratificar ou não a escolha do Grande Júri. Os envelopes serão abertos de acordo com o nome do(a) inscrito(a) por ordem alfabética. Primeira proposta: Carivaldo Silva – sonho de consumo: extermínio dos políticos de Urbital. Segunda proposta: Deusdetina Aparecida – sonho de consumo: fazer sexo com Brad Pitt. Terceira proposta: Exovildres Vaz – sonho de consumo: desenvolver o ser humano hermafrodita. Quarta proposta: Ivana das Dores – sonho de consumo: ter uma casa popular. Quinta proposta: Kelly Christina – sonho de consumo: casar na igreja da Candelária em cerimônia oficializada pelo papa. Sexta proposta: Osvair José – sonho de consumo: viagem a Marte com acompanhante no ovni do Et de Varginha. E atenção telespectadores. Vamos neste momento proceder à defesa de tese dos concorrentes. Pela ordem de convocação, cada um terá 1 minuto para se justificar. Sr. Carivaldo Silva, por que o senhor quer exterminar os políticos do planeta?

Carivaldo Silva: Porque enquanto houver um político na Terra a humanidade não será feliz.

O Apresentador: Sra Deusdetina Aparecida, por que a senhora quer fazer sexo com o ator Brad Pitt?

Deusdetina Aparecida: Porque ele é gostoso, bonitão, homem demais para uma mulher só. Meu Deus! Ponha aí na sua agenda, moço: sou senhorita.

O Apresentador: Sr. Exovildres Vaz, por que o senhor quer produzir o ser humano dotado com dois sexos?

Exovildres Vaz: Para justamente não ter essa angústia da Deusdetina Aparecida de desejar e não possuir. Se o humano for homem e mulher, ele se resolve consigo mesmo, se imagina com quem quiser e está resolvido o problema.

O Apresentador: Sra Ivana das Dores, por que a senhora quer uma casa popular?

Ivana das Dores: Porque não tenho nenhuma. Morava debaixo de ponte, depois me mudei pra um barraco de papelão e ripa em área de risco, morro acima. Se chover, nem precisa enterrar. Quero uma casinha assim até de quatro cômodos, sabe?, mais tarde a gente faz um puxadinho e “intera” o que faltar.

O Apresentador: Srta Kelly Christina, por que a senhorita quer se casar na igreja da Candelária tendo o papa como chefe da cerimônia de núpcias?

Kelly Christina: Quer coisa mais podre de chique? Primeiro porque na Candelária é puro status, o casório vira evento na hora e sai na capa da Caras; segundo porque garanto que se uma pé-rabado como eu, simples manicure de bairro pobre conseguir alugar a Candelária pra casar com o Zé Alonso, meu noivo mecânico, até a Ana Maria Braga, Xuxa, Ronaldinho, Adriano, o Imperador, Willian Bonner e Fátima Bernardes vão aceitar ser padrinhos. Quer saber? Acho que até o Lula é capaz de comparecer. Agora, queridinho, um casamento desse feito pelo Bentinho, cá pra nós, hein!? Repercussão mundial! Viro estrela, me arrumo melhor que as saradinhas do Big Brother.

O Apresentador: Osvair José, por que o senhor quer fazer uma viagem de turismo a Marte acompanhado por sua esposa no disco voador dos Ets de Varginha?

Osvair José: Porque esse negócio de fazer turismo na Terra não tá com nada, compadre. V. pode programar um lugar completamente desconhecido na Conchinchina que vai encontrar lá placa da Coca-Cola, paulistas mais brancos que sabão em pó, panfletos de rent a car, camelôs de celular, ciganas lendo mãos, uns mineiros fazendo piquenique com farofa, dois ou três políticos disputando voto, no mínimo uma igreja evangélica, militantes do Green Peace, um torcedor do Corínthias, dois do Flamengo, e, claro, um shopping.

O Apresentador: Tempo esgotado.

Osvair José: Uma pinóia! Nem falei porque escolhi Marte, pô! É porque não tem tecnologia pra me levar pro fim do mundo, entendeu? É isso aí.

O Apresentador: Para fazer o sorteio do felizardo ou da felizarda, chamamos ao programa o excelentíssimo senhor doutor Cleomâncio Renil, digníssimo diretor de operações de marketing da Rede NET. Boa noite doutor Cleomâncio. Faça escolha aleatória de um envelope, abra-o e com alegria declare para todo o país qual é a proposta vencedora do ano.

Cleomâncio Renil: A proposta vencedora do Concurso Realize Seu Sonho de Consumo de 2010 é a de...do...da...bem...vejamos...sim, aqui está...o vencedor é o senhor... Carivaldo Silva pela proposta Extermínio de políticos de Urbital. Parabéns senhor Carivaldo Silva. E boa sorte (com sotaque do Paulo Henrique Amorim).

A galera da craque: Carivaldo! Carivaldo! Carivaldo!

O Apresentador: Parabéns de novo, Sr. Carivaldo. Urbital inteiro está neste momento invejando a sua sorte. E cada urbitalino torce para que o senhor realize todo o seu sonho de consumo. E agora, senhoras e senhores telespectadores, vamos conhecer na intimidade a proposta Extermínio de políticos do mundo, vencedora do Concurso Realize Seu Sonho de Consumo de 2010. Sr. Carivaldo: quanto de dinheiro o senhor vai precisar para realizar seu sonho de consumo?

Carivaldo Silva: Tipo assim um bilhão de euros.

O Apresentador: (com ligeira ironia) Bastante modesto o custo do seu sonho de consumo. O Sr. já tem tudo planejado? Podemos começar a realizar o maior desejo de toda a sua vida?

Carivaldo Silva: Está tudo planejado, sim, e podemos começar.

O Apresentador: Bem...senhor Carivaldo, o seu sonho de consumo não é o que poderíamos chamar de coisa fácil de se realizar, mesmo porque ele pressupõe exterminar alguns milhares de homens e mulheres revestidos de função pública, a quase totalidade escolhida cada um pelo povo do seu país. Políticos são pessoas vaidosas, blindadas, não aceitarão facilmente ser convidadas a serem exterminadas. Políticos, como o senhor sabe, ganham muito, têm poder de influência, gozam de impunidade, criam leis que os favoreçam, cooptam seus adversários e a imprensa, pagam fortunas para manter o marketing pessoal e de relacionamento, são sócios de traficantes, têm rabo preso com empresários, recebem propinas robustas e se perpetuam no poder público mantido pelo maior volume de impostos do mundo. O que o senhor tem a dizer?

Carivaldo Silva: Não tenho nada a dizer. Tenho a fazer: exterminar os políticos. O programa vai ou não vai patrocinar meu sonho de consumo?

O Apresentador: Com absoluta certeza. O que o senhor espera conseguir com o seu feito?

Carivaldo Silva: O óbvio: realizar o meu sonho de consumo. Promover uma limpeza institucional esperada pela humanidade desde que os homens formalizaram regras para viver em sociedade. A ideia era até boa, mas não deu certo. Quando os homens começaram a usar o poder para ter mais poder, e com isso institucionalizaram a violência, a política perdeu a razão de ser. Todos os problemas criados por causa da convivência social, sem exceção, mantiveram-se através da História. Nenhum problema foi resolvido, porque os políticos descobriram que o que os mantém no poder são os problemas que eles próprios criaram para a humanidade. Agora, não há mais solução para nada, porque não é possível solucionar nada.

O Apresentador: O senhor não considera que sem um controle político haveria um caos universal?

Carivaldo Silva: O que existe hoje não é o caos planetário? Medo, incerteza, insegurança, miséria, guerras, corrupção, abuso de poder, destruição ecológica – quem é responsável por tudo isto? Em primeiro lugar o povo, porque é o povo que mantém políticos no poder. Em segundo lugar os políticos, porque tiram proveito extremo da extrema fragilidade humana. Se o mundo não pode ser diferente, então é melhor não existir.

O Apresentador: O senhor não acha que sem os políticos predominaria no mundo a anarquia?

Carivaldo Silva: Não se trata de experimentar um novo regime ideológico para manter o equilíbrio social. Ou de implantar como regime um estado de espírito. Trata-se de exterminar pela raiz o que faz mal há séculos para a humanidade. Os políticos acomodaram-se em suas próprias leis e tornaram todos os poderes os agentes de manutenção de sua própria hegemonia. Os políticos fizeram, por força de leis, ou seja, pela imposição da força punitiva das leis, a humanidade refém de seus caprichos. Eles supõem que sem políticos não é possível a Terra, as nações, os povos. E a gente sabe, entretanto, que não é nem pode mais ser por aí. Se a humanidade, que crê em um Deus que nunca é visto, que nunca intercede na vida, sobrevive religiosamente, por que não haveria de sobreviver sem políticos? Desisto para sempre do meu sonho de consumo se alguém, de qualquer parte do mundo, filósofo ou cientista, criança ou senil, me convencer sobre a seguinte questão: para que serve o político?

O Apresentador: O senhor está fazendo uma aposta com todas as pessoas da Terra? Podemos abrir, neste momento, um canal com todos as pessoas que queiram responder à sua indagação? E, uma vez convencido, o senhor desistiria de realizar o seu sonho de consumo?

Carivaldo Silva: O senhor entendeu direitinho, e a provocação está no ar. Quem se arrisca?

O Apresentador: Já temos um telespectador na linha. Vamos lá, vejamos, por favor, identifique-se.

Telespectador: Meu nome é Miguel Kramer, sou presidente da Câmara dos Deputados de Urbital. O sonho de consumo deste cidadão, devo alertar a todos, é a maior utopia que já se imaginou na face da Terra. A sociedade não pode simplesmente viver sem políticos, pois políticos fazem as leis. Sem leis tudo se transformaria no caos. Sem políticos não há soberania de nenhum país, tudo seria a máxima degradação.
Carivaldo Silva: (interrompendo o telespectador participante) A degradação humana foi criada e mantida pelos políticos. O povo viveria na barbárie, se aviltasse regras básicas de convivência. Os políticos, desde sempre, roubaram da humanidade o suor, o sangue, a inteligência, o tempo, o espaço, o sonho. Negue, se for capaz. Você, por exemplo, só está de carreirismo no poder porque o poder lhe garante benesses, usuras, impunidades, sem o que você não aceitaria servir à causa de ninguém, provavelmente, nem à sua própria, se você fosse povo. Todos os sistemas de política, todos os métodos, tudo o que se estabeleceu politicamente no mundo voltou-se contra a humanidade. Fosse o contrário e a humanidade seria feliz. O sistema social é mantido por leis que ultrajam a todo momento a condição humana. A díade causa e efeito se dá em amplas proporções negativas porque os políticos expandiram a dependência da quase totalidade dos homens à força da violência de suas ações institucionais. Todo político é um câncer na vida social. E câncer tem que ser extirpado.

Miguel Kramer: A posição do cidadão é radical. Por trás do seu discurso tem com certeza o socialismo extremista ultrapassado, ou, então, um terrorismo ideológico de ultra esquerda crédulo da possibilidade de salvar o mundo com ideias radicais. O senhor, com toda franqueza, no mínimo é digno de pena.

Carivaldo Silva: Aí é que está a estratégia de vocês políticos: acusar pessoas comuns que pensam por conta própria, insuflando-as como sendo pertencentes a grupos políticos que outrora incomodaram seu sonho alienado, ou que sejam membros de grupos fundamentalistas auto-suicidas que querem chamar a atenção da mídia para pequenas causas. Eu sou apenas um cidadão indignado. É com essa falácia ideológica que vocês políticos ainda se mantêm no poder. O povo já sabe: não há mais ideologias de esquerda, direita ou centro. Não há mais cúpulas para decidir sobre o destino futuro da Terra. Não pode mais haver uma política engessada em escolhas regionais, pois os problemas da humanidade são, finalmente, de toda a humanidade. Muitos desses problemas poderiam ter sido resolvidos a contento, não fossem as intervenções políticas que mantiveram para justificá-los no poder. Sem miséria, não há voto. Sem voto, o político não existe. Você só existe, portanto, porque explora miseráveis, gente enfraquecida pelas leis que ajudou a criar no gueto podre do poder.

Miguel Kramer: Gente como o senhor não devia estar se pronunciando na televisão. Devia estar preso, incomunicável. O senhor é uma ameaça à sociedade.

Carivaldo Silva: Vocês políticos não admitem a verdade, porque vivem de mentiras, cultuam mentiras, são a mentira. Por que nenhum problema foi resolvido? Por que é do senso comum que o ser humano tem de trabalhar de 5 a 6 dias por semana? Por que os que trabalham muito são justamente os que não têm nada? Por que vocês políticos têm que ganhar muito para “trabalhar” pelo povo? Quem lhes garante tudo o que têm senão vocês mesmos? Por que vocês transformaram a política em um negócio rentável? Por que para manipular o poder público vocês não exigem nada de vocês mesmos, e para um cidadão comum varrer ruas e ganhar salário mínimo precisa de 2º grau completo? Porque um gari precisa trabalhar 35 anos para ter direito a uma aposentadoria e vocês se aposentam com tudo em cima com 4 anos no poder? Vocês são o maior mal da humanidade. Ao criar o mundo, Deus criou também o castigo: o político.

Miguel Kramer: Só o fato de o senhor querer exterminar todos os políticos é uma afronta ao mundo, às Constituições, aos poderes constituídos. O senhor será denunciado por sua intenção maligna, demoníaca, energúmena. Em nome da ordem, da segurança nacional, dos direitos humanos, comunicarei ao mais alto comando da polícia e das Forças Armadas sua intenção criminosa e o senhor responderá por seus atos conforme as leis vigentes no país.

Carivaldo Silva: Ai que meda! Doutor Excelência! Que crime cometi até então, a não ser peitar sua arrogância de político de Urbital? Bastou sentir seu status quo político ameaçado de extinção para convocar o aparato da violência para tentar me amedrontar. Quer ver uma coisa, Doutor Excelência? Depois de sua participação neste programa, encomende uma pesquisa idônea e confira o resultado: você nunca mais será eleito nem para suplente de juiz de purrinha.
O apresentador: Perfeito e obrigado, “amigão”. Vamos ver quem é agora.

Will Durant: A máquina política triunfa porque é uma minoria unida atuando contra uma maioria dividida.
O Apresentador: Alô!? Temos outra pessoa se comunicando com nosso programa líder absoluto de audiência. Pois não? Quem é, por favor?

Novo telespectador: Meu nome é CalMara e sou gestora do planeta WCB-2, ou Luzânia. Todo o universo sabe que levamos séculos para limpar o planeta de toda política deixada pelos invasores terráqueos. A política quase dizimou tudo aqui. Se precisar de alguma coisa, Carivaldo Silva, conte com a gente. Político é igual barata: faz mal sempre e em todo lugar.

O Apresentador: Vejam só, queridos telespectadores! Carivaldo Silva acaba de receber um grande apoio incondicional de uma líder interplanetária. Este é o objetivo do nosso programa: ser líder não apenas mundial, mas cósmico! Por isso é que podemos garantir 1 bilhão de euros para Carivaldo Silva realizar seu sonho de consumo.

Miguel Kramer: (ainda no link telefônico, a voz no ar) Isto é um absurdo! Essa eteia é demagoga. Como alguém pode dar apoio a um extermínio em massa de políticos? Seria o início de uma guerra incontrolável. A humanidade pode desaparecer num instante. Governo algum, por mais corrupto que seja, não se permitirá ser destruído por um...por um...

O Apresentador: Por um novo tipo de herói universal! Carivaldinho Silva. Cari para os íntimos. Care para os estrangeiros, pois é o homem-atenção, o homem-cuidado, o homem-zelo do mundo. O homem que quer acabar com a “coisa” política no universo! Nosso legítimo sorteado. E agora, com amplo apoio popular, cada vez mais próximo de conseguir por em prática o sonho de sua vida.

Galera da craque: Carivaldinho! Carivaldinho! Carivaldinho!

Miguel Kramer: Vou comunicar o presidente de Urbital sobre essa tramóia toda e exigir dos poderes constituídos seja este programa sórdido tirado do ar imediatamente.

Galera da craque: Uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!

O Apresentador: É só alegria, senhoras e senhores, só muita alegria! Temos mais alguém na linha. Pois não, é um prazer tê-lo em nosso programa.

M. Friedman: Meu nome é M. Fridman, sou americano e tenho a dizer o seguinte: A solução do governo para um problema é usualmente tão ruim quanto o problema.

O Apresentador: Muito obrigado por sua honrosa participação, Mr. Friedman. Já temos outra pessoa no alô.
Getúlio Vargas: Metade dos meus homens de governo não é capaz de nada e a outra metade é capaz de tudo.
O Apresentador: Obrigado, senhor ex-presidente. E lá vem outra voz amiga. Ah, é para por no telão? Vamos lá.

Júlio Camargo: A política é arte de governar com o máximo de promessas e o mínimo de realizações.

O Apresentador: Perfeito e obrigado “amigão”. Vamos ver quem é agora.

Will Durant: A máquina política triunfa porque é uma minoria unida atuando contra uma maioria dividida.

O Apresentador: Irrepreensível! Supimpa! E vamos em frente.

Adolf Hitler: Quanto maior a mentira, maior a chance de todos nela acreditarem.
O Apresentador: Até o senhor Führer! É a consagração total do Realize Seu Sonho de Consumo 2010. O esplendor da mídia! Alô?!

Marques de Halifax: Falo de Londres. É o seguinte: Em política, o melhor partido não é nada senão um tipo de conspiração contra o restante da nação.

O Apresentador: Beatiful, Mr. Halifax! Vamos em frente.

Novo telespectador, não identificado: Aqui é o anônimo, o Zé Ninguém. O que penso é o seguinte: Político profissional jamais tem medo de escuro. Tem medo da claridade.

O Apresentador: Uma avalanche de participações! O esplendor da mídia! Agora teremos uma grande intelectual existencialista. Ça va bien, madame?

Simone de Beauvoir: O maior escândalo dos escândalos é que nos habituamos a eles.

O Apresentador: Magnifique! Hélàs! E, na seqüência, de novo um americano. Hello!

Doug Larson: Em vez de dar a um político as chaves da cidade, seria melhor trocar as fechaduras.

O Apresentador: Yeah! Hurra! Parece que vamos voltar à França. Alô?

Henry Beraud: Na política é difícil distinguir os homens capazes dos homens capazes de tudo.

O Apresentador: É o Panteão da Inteligência na TV! É o maior espetáculo da Terra! Agora quem é que teremos o prazer de receber? Ah, sim, vem da Argentina...

Tomás Eloy Martinez: A História é escrita pelo poder, a partir do poder, a serviço do poder.

O Apresentador: Muchas gracias, hermano. Ouçam só esta voz arrastada de baiano. Quem será?

Antonio Carlos Magalhães: Esta é para lembrar o Miguel Kramer que a mesquinhez do seu gesto dá a medida exata de seu caráter.

O Apresentador: Sen-sa-ci-o-nal! Um primor!: o porco falando do toucinho...

Francis Bacon: É muito difícil compatibilizar a política e a moral.

Carlos Porto de Andrade Jr.: É muito mais fácil fazer o público acreditar em mentira do que o inverso, pois há verdades que não inspiram confiança.

Alfred de Musset: A política é uma delicada teia de aranha em que lutam inúmeras moscas mutiladas.

Henri Milton de Montherlant: A política é a arte de captar em proveito próprio a paixão dos outros.

O Apresentador: As opiniões pipocam de todas as partes do mundo. Desse e de outros. Uma apoteose! Deixemos rolar a liberdade.

Henry David Thoreau: Os homens hão de aprender que a política não é a moral e que se ocupa apenas do que é oportuno.

Voltaire: A política tem a sua fonte na perversidade e não na grandeza do espírito humano.

John Kenneth Galbraith: Nada é tão admirável em política quanto uma memória curta.

Tocqueville: Na política, os ódios comuns são a base das alianças.

Arturo Graf: A política consiste na arte de trair interesses reais e legítimos e de criar outros imaginários e injustos.

Ambrose Bierce: A política é a condução dos assuntos públicos para o proveito dos particulares.

Albert Camus: A política e os destinos da humanidade são forjados por homens sem ideais nem grandeza. Aqueles que têm grandeza interior não se encaminham para a política.

Otto Lara Resende: A ação política é cruel, baseia-se numa competição animal; é preciso derrotar, esmagar, matar, aniquilar o inimigo.

Paul Valéry: A política foi primeiro a arte de impedir as pessoas de se intrometerem naquilo que lhes diz respeito. Em época posterior, acrescentaram-lhe a arte de forçar as pessoas a decidir sobre o que não entendem.

O Apresentador: Está incrivelmente maravilhoso nosso programa! Vamos em frente! O senhor Carisvaldo Silva só pode estar muito, mas muuuito feliz com tamanha audiência universal! Uau!

Adão Myszak: Toda a política do governo é cercar-se de garantias para se manter no poder.

Victor Lasky: Na política não há amigos, apenas conspiradores que se unem.

Bob Marley: A política só serve para dividir o povo. É uma bobagem, pois faz o povo confiar em um homem que não pode fazer nada por nós. Se você não tiver sua vida, você não tem nada. Por isso até os políticos devem achar um rastafari.

O Apresentador: E com muita honra anunciamos o maior autor de teatro de todos os tempos....Ele!
William Shakespeare: A política está acima da consciência.
O Apresentador: Este é o programa Realize Seu Sonho de Consumo. Hoje com o maior índice ibope de toda a televisão de Urbital em todos os tempos. O programa que faz justiça ao bom gosto e à inteligência dos telespectadores! O seu programa! Aqui o mundo se revela. Aqui tudo é verdade! Aqui você faz a festa de todo o universo! Quem está na linha agora?

Jeanne Pompadour: Todos os segredos da política consistem em mentir a propósito.

Maurice Barres: A política é a arte de tirar o melhor proveito possível de determinada situação.

O Apresentador: Adorável! Esplêndido! Apoteótico! Vamos a um curto intervalo comercial e voltaremos em apenas 3 minutinhos para falar do plano de ação do sonho de consumo do vencedor Carisvaldo Silva. Não saia daí.

Na telinha: Realize Seu Sonho de Consumo 2010 tem a chancela do Banco do Brasil – o banco dos brasileiros. Companhia Urbital de Segurança Máxima – o máximo pra você ter liberdade de vida. Ford Todobra – é pau pra toda obra, no asfalto ou na lama. Coca-Cola – a bebida do mundo. E Plug – a marca que liga seu tempo.

O Apresentador: Estamos de volta com imensa alegria para dar prosseguimento ao Realize Seu Sonho de Consumo 2010, agora para revelar ao mundo o plano de ação de Carisvaldo Silva. Sr. Carisvaldo, conte para nossos milhões de telespectadores como é que pretende eliminar os políticos da face da Terra.
Carisvaldo Silva: Vamos devagar porque não podemos correr o risco de nada dar errado. Contra o erro, a competência. A primeira fase do plano de ação subentenderá o que chamo de Alegria das Viúvas Coitadinhas, ou AVC. Se a gente não agradar o ego das mulheres dos políticos, nada feito. Agradando-as, elas convencerão seus cônjuges corruptos a participarem do momento final da Grande Viagem Limpa-Urna. Elas serão convidadas para fazer um cruzeiro no nada menos que Oasis of the seas, com duração de 15 inesquecíveis dias triunfantes, com saída de Fort Lauderdale, cidade a 40 quilômetros de Miami, para onde irão de véspera em jato fretado. Trata-se não de um navio, mas de um arranha-céu suspenso sobre o mar, com 16 andares, 360 metros de comprimento, onde a Promenade, uma rua 25 de Março para podres de ricos, no 5º deck, espera pelas madames com lojas inigualáveis, bares, tratamento de rainha, as novidades da moda em primeira mão através de desfiles com as principais modelos made mundo . Shows de strippers coletivos e personalizados nas cabines/aptos. Massagistas masculinos e femininas, manicures, cabeleireiras, tudo com atendimento full-time. Sessões de affaires virtuais com a tecnologia de Matrix projetando o objeto do desejo sexual de cada convidada. Joalherias com exposição permanente de diamantes africanos raríssimos em promoção com 99% de desconto para as felizardas. Um sistema exclusivo de Interphophok em sala com 360º de varredura óptica para o mar onde as mulheres poderão se comunicar em tempo real com suas amigas pobres, casadas ou não com funcionários públicos, vizinhas, as acadêmicas fisiculturistas e, claro, com seus familiares e parentes do interior, aqueles chamados de olho-seca-samambaia, por causa da inveja pela “sorte” das poderosas. Somente uma coisa não haverá no Oasis of the seas: balança. Nada de Ver-o-Peso, nada de proibir o consumo das melhores iguarias do mundo feitas pelos melhores chefs. Cartão de crédito com depósito de 20 mil euros para cada uma no banco do navio para gastar na compra do que o dinheiro puder comprar. Shows musicais com os artistas da preferência da maioria, não importa se em performance solo, com banda ou orquestra. Visita a 3 das mais paradisíacas ilhas do mundo. Cabines duplas individuais com tudo o que é necessário para uma mulher. Cesta básica com produtos para cabelos, pele, protetores solares, com fartura suficiente para 1 mês em climas quentes e frios. Estação de inverno em um andar inteiro, com pistas de patinação no gelo. Um shopping sofisticado para aquisição de souvenirs e comprinhas anti-depressivas, também com direito ao cartão Descontão. Com um detalhe: somente será filmado ou fotografado o que ela quiser que seja filmado e fotografado. E o mais importante: uma equipe de entrevista do programa Realize Seu Sonho de Consumo à disposição para que cada mulher de político declare o que mais quer da vida. Copiou?
O Apresentador: Absolutamente maravilhoso! Incrível! Carisvaldo Silva é merecedor de palmas, do reconhecimento dos nossos telespectadores por sua fantástica ideia de como realizar seu sonho de consumo. Alegria, é só alegria!

Carisvaldo Silva: Mesmo com toda mordomia que for possível dar, a mulher do político fará a Viagem Inesquecível com uma condição sine qua non: convencer o maridinho riquinho, corruptinho, corninho a fazer a Grande Viagem Limpa-Urna. O que a gente espera é adesão em massa, não a já folclórica falta de quorum neste evento único e histórico.

O Apresentador: Muito bem. Conhecida a primeira fase do Realize Seu Sonho de Consumo, de Carisvaldo Silva, passemos à segunda etapa do plano de ação. E então, sortudo vencedor do concurso. Como será?

Carisvaldo Silva: Trezentos milhões de euros serão investidos na construção, pela Airbus SAS – Eads Systems, de um Airbus A380, palácio voador para 550 passageiros só em classe luxo, um superjumbo com 72,75 metros de comprimento, autonomia de 14.800 quilômetros, com o máximo de segurança em tudo, dotado de sistema fly-by-wire, poltronas-camas, shopping, área de lazer sofisticada com lounge, closet particular, sala especial de jantar e reuniões para executivos, iluminação especial, cozinha e alimentação por conta da Qantas, completo serviço de bordo exclusivamente feito por aeromoças capas-de-Playboy treinadas “para o que der e vier”, salão de jogos de mesa, shows com os melhores astros da puteiros-music, pagamento, pela exclusiva agência aeroespacial, de voucher no valor de 50 mil euros per capita, o mesmo sistema Interphophok em versão político-econômica para o convidado falar ao vivo com seus mais longínquos correligionários, cardápio personalizado, pois também entre políticos uns gostam do olho, outros da remela, roteiro incluindo 5 dos melhores points martítimos, como Seychelles, Ko Lipe, Bali, Fiji, Perhentian, oferta de blindes como Rolex com sistema de alarme e rastreador contra furto, Girlsbook para “consumo” a bordo, notebook de ultimíssima geração, 3 garrafas de Bottega Veneta, 3 gravatas Patrizio Cappelli com cartão com o dístico “Dar um bom nó de gravata é o 1º passo sério na vida de um homem” (O. Wilde), exemplar numerado de Bobos in paradise, de David Brooks, em edição especial da Barnes & Noble, de NY, para apurar o know the know how e oxigenar o efeito trickle down para personalizar o político como gatekeeper.

O Apresentador: Puta que pariu! Ohhhhhh! Desculpem-me queridos telespectadores. Fui levado pelo arroubo, pela emoção. A técnica de convencimento elaborada por Carisvaldo Silva é mais poderosa que o marketing usado pelos políticos na compra de votos. Simplesmente irrecusável a proposta. Confesso que mesmo que seja para desaparecer após a Grande Viagem Limpa-Urna, ninguém recusaria todo este paraíso do consumo. Nossos políticos merecem tudo à altura da sofisticação do que fazem com o povo. E Carisvaldo Silva é um mestre na escolha sutil de argumentos para tornar os políticos aliciados pelo poder de fascínio da riqueza, do oportunismo, do jogo de vantagens muito especiais ao qual somente os muito espertos têm acesso, regalias e usufruem do prazer. Não foi à toa que Carisvaldo Silva tornou-se o grande vencedor do concurso Realize Seu Sonho de Consumo 2010. Mais um rápido intervalo e voltamos com o grande momento do plano de ação de Carisvaldo Silva: como eliminar políticos e ser aclamado herói nacional. Já-já. Não saia daí!

Na telinha: Realize Seu Sonho de Consumo 2010 tem apoio do Banco do Brasil – o banco dos brasileiros, onde os brasileiros estiverem. Companhia Urbital de Segurança Máxima – preventiva como conselho de mãe. Ford Todobra – em qualquer situação, uma obra-prima. Coca-Cola – a bebida do mundo. E Plug – a marca que liga você ao mundo. Não perca daqui a pouco o filme Não me envaideço dos meus cabelos brancos porque os canalhas também envelhecem, o cult mais premiado em Cannes, Veneza, Nova Iorque, Gramado, Sabará. Rede Urbital – de olho aberto o tempo todo. Voltamos a apresentar... Realize Seu Sonho de Consumo 2010.

O Apresentador: De volta para apresentação do último bloco do nosso programa de hoje, com quase 100% de audiência, os lares mundiais ligados na Rede Urbital, todos atentos à façanha deste gênio da limpeza universal de nome Carisvaldo Silva, que agora vai apresentar aos nossos telespectadores o momento sublime do seu plano para livrar a Terra dos políticos. Com vocês, e com inooolvidááável alegria, Carisvaldo Silva! Como o senhor pretende acabar com essa praga, quero dizer, com os políticos de Urbital?

Carisvaldo Silva: Inicialmente com um prazer quase sexual. Dia 4 de outubro, data prevista para o vôo da Grande Viagem Limpa-Urna, sintomaticamente marcada neste dia a fim de os políticos descansarem de sua longa maratona eleitoral, o Airbus A380 estará prontinho no aeroporto de Brasália, capital de Urbital com tudo em riba, em cima da mosquita, tinindo de rosquinha, nos trinques. Horário de vôo: 21:00 horas. Uma multidão contratada, devidamente uniformizada, estará no aeroporto com faixas, banners, gritos de ordem para saudar os escolhidos. Entrevista coletiva será dada no Salão Vip reunindo 20 representantes dos parlamentares, escolhidos por sorteio, com transmissão direta e tradução simultânea para 100 países através dos principais canais televisivos. A única pergunta na pauta será: Pô, cara, o que você fez pra merecer ter nascido com o cu virado pra lua? Após o check-in, o embarque épico e o início da Grande Viagem. Uma vez alcançada a altura desejável, as deliciosas aeromoças servirão petiscos, drinques, coquetéis, até água benta, se for do agrado líquido de algum viajante parlamentar. Também no ar é ele quem manda. Como comissário de bordo, cumprimentarei os passageiros com boas-vindas, informarei mais uma vez o roteiro da viagem e invocarei a Deus para que tudo ocorra com pleno êxito e felicidade de todos. Exatos 20 minutos após a decolagem, o superjumbo sobrevoará o Pantanal, onde 20 mil jacarés com mais de 3 metros de comprimento e centenas de milhares de piranhas famintos estarão reunidos por peões nos rios, lagos, igarapés, fissuras aquáticas. Neste momento jubiloso, o comandante abrirá com alegria as imensas comportas do avião A380 e com um toque mágico num botão vermelho de sua cabine de vôo, ejetará, para baixo, todos os assentos da gigantesca fuselagem da nave. À exceção da tripulação, todos os passageiros cairão exatamente no alvo previsto: nas bocas serras-dentadas, estúpidas, famintas e mal-educadas dos milhares de jacarés e piranhas, que se alimentarão inexoravelmente com a carne saudável dos políticos de Urbital. Lá embaixo, com câmeras possantes e zoons que pegam detalhes até da alma, cinegrafistas especialmente convidados estarão a postos para registrar ao vivo aquele que será conhecido como um dos maiores espetáculos da Terra e que tornará o Guiness um almanaque de meros fatos curiosos. Trinta minutos após o repasto parlamentar pelos jacarés e piranhas, e numa deferência toda especial de nostalgia aviadora, um B-52, como o que despejou as bombas sobre Hiroshima e Nagazaki, soltará sobre o mesmo Pantanal 10 toneladas de Sal de Fruta Eno. Coitados dos bichos: pelo fato de terem comido porcaria, não merecem ter azia. De muito longe ouvir-se-á, então, um arroto semelhante ao grito uníssono do povo quando comemorará o retorno da vida no planeta Terra.
O Apresentador: Não tenho palavras.

Márcio Almeida é mestre em Literatura, professor universitário e jornalista, autor de diversas publicações, poeta e minificcionista, crítico de raridades.
marcioalmeidas@hotmail.com

segunda-feira, 3 de maio de 2010

pêsames, poema de Valéria Tarelho

pêsames

em memória de minha mãe, Aliete Soares Tarelho

eis, de novo, você,
batendo a minha porta
após tê-la levado consigo
em um solstício de verão.

eis você, outro dezembro,
mês que lembra
falta de aconchego,
lugar vago à mesa,
ceia sem o habitual tempero,
festa desfeita,
peso.

se ela está ausente,
presentes, para quê?
por que, dezembro,
me desmamaste
tão cedo?


valéria tarelho dez/2003

Valéria Tarelho, natural de Santos/SP (1962), residente em São José dos Campos/SP, separou-se da advocacia devido a um caso com a poesia. Seus primeiros escritos datam de abril de 2002.
Blogs:
textura : http://valeriatarelho.blogspot.com/
impura poesia : http://impurapoesia.blogspot.com/
proseares (com Sidnei Olívio): http://proseares.blogspot.com/
*todo dia 14 pode ser lida no blog Poema Dia

domingo, 2 de maio de 2010

POR QUE O AUTOR BRASILEIRO NÃO É LIDO NO EXTERIOR?, por Márcio Almeida

                                                   


                            UM GALHO MENOR
    EM UM ARBUSTO NO BOSQUE DA LITERATURA
                        (Antonio Cândido)

    PORTUGUÊS COMO IDIOMA-BARREIRA
    E TRADUÇÃO INCIPIENTE INVIABILIZAM  
    AMPLITUDE DE RECONHECIMENTO DA
    PRODUÇÃO LITERÁRIA BRASILEIRA
                           Márcio Almeida
____________________________________________

     Fato: os estrangeiros, ainda que latino-americanos, não têm o mesmo interesse em traduzir obras de autores brasileiros como os brasileiros em relação a escritores do exterior. Aqui, enquanto se traduz, publica e se mantém polpudo mercado editorial para livros estrangeiros, de auto-ajuda a científicos, de best-sellers a publicações de conveniência, lá fora é restrito o volume de volumes de autores brasileiros. Raros são os autores brasileiros que logram traduções em vários países, enquanto no Brasil é comuníssimo encontrar obras que chegam já referendadas em diversos idiomas. Não há no exterior, em relação à produção literária brasileira, a mesma acuidade, boa vontade, interesse, que o mercado interno disponibiliza para autores europeus, norte-americanos ou orientais.

     Tenho recebido de alguns dos mais conceituados especialistas em minificção e poesia da AL e dos Estados Unidos, p.ex., o argumento de que lá fora os minificcionistas e poetas, como de resto até mesmo bons autores de contos, novelas e crítica, não serem (re)conhecidos a pretexto de a língua portuguesa não ser idioma palatável para o leitorado que via de regra lê em inglês, espanhol ou outra língua, menos, é claro, na “inculta e bela.”

     “Não que a literatura brasileira seja pior ou melhor que as outras. O problema é que ela é escrita em português. Resultado: existem pouquíssimas traduções de autores brasileiros em outras línguas, e mais raras ainda são as traduções boas”, escreve AMORIM (2009) em um blogue que questiona qual a importância da Literatura brasileira no resto do mundo. BRASIL (2008) faz o mesmo: “Os problemas ocupam, no entanto, espaço essencial. O relativo interesse pela língua portuguesa no mundo é um dos principais entraves. Pesquisadores europeus e norte-americanos apontam o espanhol como língua latina de ponta, o que acaba ofuscando as demais. O trabalho feito por institutos culturais como o Cervantes é muito poderoso e faz com que o idioma espanhol ganhe um espaço precioso”. Para haver maior chance de otimização tradutória de autores brasileiros, arremata o resenhista, “o Brasil deveria considerar o Instituto do Livro e o Instituto Camões em Portugal como modelos a serem seguidos.” Gustavo Sorá, professor experiente da Universidade de Córdoba, com formação pós-gradual feita integralmente no Brasil e com 10 anos de vivência brasileira, publicou Traducir el Brasil – una antropologia de la circulación internacional de ideas, no qual discute a presença do livro e dos autores brasileiros na Argentina. Neste livro, afirma que nos países da América hispânica, o espanhol é a potência idiomática para tradução e, “como língua internacional freia o interesse do público pelo aprendizado de outras línguas.” “Daí, - completa sua leitura – não se observa nesses países a mesma abertura que tem o público leitor brasileiro para o uso de línguas estrangeiras nem a disponibilidade de livros do estrangeiro, com exceção dos produzidos nos outros mercados de língua espanhola.”

     COELHO (2008), escrevendo sobre o “Diálogo e comparativismo: Brasil e países hispano-americanos no Suplemento Literário do Minas Gerais, 1974-1985”, faz registro oportuno da atuação de Laís Corrêa de Araújo em sua seção “Roda Gigante”, mantida por décadas no jornal Estado de Minas, que reflete o desinteresse mútuo entre autores latino-americanos: “Em “Romance boliviano”, a autora salientava que: No congresso do Pen Club realizado em Nova York, houve debate sobre a função do escritor na América Latina, de que participaram Pablo Neruda, Victoria Ocampo, Carlos Fuentes e outros intelectuais, tendo o uruguaio Carlos Martinez Moreno salientado especialmente que os escritores sul-americanos são “reciprocamente ignorantes se ignorados uns dos outros” (Araújo, mai. 1867, p.3).

     LAJOLO (2006), cruzando dados estatísticos de traduções de livros brasileiros, registrou: “Nos últimos anos a publicação de autores traduzidos vem avançando tanto em títulos quanto em exemplares: 1.670 títulos em 2002, 2.430 em 2003 e 3.200 em 2004. No mesmo período, a publicação nacional encolhe: 9.080 títulos em 2002, 7.220 em 2003 e 6.826 em 2004. E se lembrarmos que é também crescente o capital editorial estrangeiro no país?”

     Em importante pesquisa muito considerada em nível acadêmico, HEILBRON e SHAPIRO (2007) assinalam que na estrutura do sistema mundial de tradição de livros “enquanto os países dominantes ´exportam´ amplamente seus produtos culturais e traduzem pouco para suas línguas, os países dominados ´exportam´ pouco e ´importam´ muitos livros estrangeiros, principalmente por meio da tradução.” WERNER, por sua vez, completa: “O mercado editorial brasileiro, como muitos outros no mundo, não tem a tradição de exportar direitos de tradução e por esse motivo a análise do fluxo originado nesse país pode ser tão frutífera. Desse modo, quando uma tradução acontece, suas motivações são mais “fortes” do que as motivações que originam uma tradução que tem o inglês como língua de partida e por isso ela se presta a uma análise interessante.” Esta autora analisa ainda ser o espanhol a primeira língua para a qual muitas das obras literárias brasileiras foram e são traduzidas desde o final do século XIX, mas que uma obra traduzida para o inglês tem muito mais chance de ser traduzida para muitas outras línguas, uma vez que o português é, no sistema de tradução internacional, considerada periférica.

      Sente-se, em decorrência destas afirmações haver, também, não só um profundo desinteresse estrangeiro em traduzir autores brasileiros, como uma inegável indiferença que passa desde os campi acadêmicos ao grosso de editoras, além, por extensão, da desinformação da mídia especializada produzida em revistas, suplementos, jornais e publicações virtuais.

     Os entraves para o reconhecimento do autor brasileiro no exterior, porém, não param aí. Conclusões obtidas pelo Projeto Conexões, trabalho até então inédito, destinado a fazer o mapeamento internacional da literatura brasileira, promovido pelo Itaú Cultural em 2008, apontou outras causas inviabilizadoras do fluxo de tradução: as editoras investem no marketing de escritores cujos livros tiveram boas vendas no Brasil; os profissionais que trabalham com literatura brasileira no exterior são unânimes em elogiar dicionários como o Aurélio e o Houaiss, mas reclamam de não dispor de bons dicionários bilíngües; é fato contraproducente escritores brasileiros tentar copiar Borges ou Cem Anos de Solidão.

     Uma das mais recentes análises da questão decorreu do debate recém-realizado no último dia do II Conexões Itaú Cultural – Encontro Internacional de Literatura Brasileira, dias 1 e 2 de dezembro, no Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Do depoimento da galega Carmen Corral, responsável pela aquisição de direitos internacionais da editora espanhola Tusquets Editores tudo se aproveita em nível de reflexão. Segundo ela, editoras não são Ongs e buscam fechar negócios dentro do seu nicho editorial; tradutor há que ser profissional especializado com indiscutível qualificação; é real a falta de informação, no exterior, sobre o mercado editorial brasileiro, sobretudo na Espanha; ela observou, também, não haver qualquer pacote de resumos traduzidos de obras brasileiras, à semelhança do que ela recebe a cada seis meses de países como Alemanha, Polônia, Turquia e Japão. Além de ter declarado ainda que as bienais brasileiras não têm, até hoje, amplitude internacional, ao contrário, entre outras, das feiras de Guadalajara, no México. Corral foi categórica em “denunciar” que outro problema editorial para autores brasileiros advém dos editores, que em eventos internacionais nunca falam dos escritores do seu país, mas estão sempre à procura de autores estrangeiros. E que, segundo ainda ela, nunca se vê autor brasileiro conhecido divulgando conterrâneos. Argumento corroborado por Lúcia Riff, ao comprovar que os editores brasileiros não falam de seus autores, tendo preocupação exclusiva de comprar direitos autorais de estrangeiros. Outro problema apontado: o fato de os autores brasileiros serem representados em quase sua totalidade por agentes literários não-brasileiros.

     Naquele mesmo evento, Luiz Ruffato lembrou que a Fundação Biblioteca Nacional chegou a fazer resumos traduzidos de obras brasileiras, mas o projeto, sem consistência, não vingou. Lê-se no site do Plano Nacional do Livro e Leitura: “O Programa de Apoio à Tradução de Autores Brasileiros concede bolsas de U$3.000,00 pagas aos editores formalmente estabelecidos e com catálogo expresso em números de títulos publicados. A bolsa de tradução é concedida em duas parcelas às editoras estrangeiras interessadas em publicar autor brasileiro ainda não traduzido em sua língua. O prazo para entrega do livro traduzido é de 24 meses a partir da concessão da bolsa. É missão da Fundação Biblioteca Nacional (FBN) apoiar e difundir a produção editorial brasileira no estrangeiro, pois os editores brasileiros não têm contrato dos seus autores para publicá-los em outros idiomas.” Note-se a seguinte advertência da FBN, transcrita ipsis litteris: “Se a FBN não faz esse trabalho de divulgação dos autores brasileiros, eles não serão traduzidos para outros idiomas. Iniciativa similar é praticada por diversos outros países, que apóiam a tradução de seus autores inclusive no Brasil.”

     Ruffato contou ao público que no Timor Leste descobriu não haver uma obra sequer de autor brasileiro em nenhuma instituição, salvo na embaixada, onde ouviu do próprio embaixador que “ninguém nesse país se interessa por literatura brasileira.”

     Sob a perspectiva da leitura, Roberto Vechi, catedrático de literatura brasileira da Universidade de Bolonha, assinalou que leitores estrangeiros ”inevitavelmente procuram o Brasil nos livros”, o que condiciona, segundo ele, a forte influência dos esterótipos provenientes da imagem do Brasil-paraíso nos livros de Jorge Amado, e do Brasil-inferno contido nas descrições do país arcaico. Na opinião de Vechi, para ser bem aceita em nível de ampla recepção na Europa, p.ex., é preciso que através do agenciamento a literatura brasileira no exterior administre com competência a compreensão de como a obra literária comunica-se com sua própria cultura, o que motivará ou não a literatura brasileira ser lida nas universidades estrangeiras. O professor, todavia, apontou como motivo maior para o autor brasileiro ainda não ser consumido por leitores italianos as traduções amadoras, negligenciadas.

     Espaço há, mas não comparável ao concedido aos estrangeiros no Brasil, - para alguns autores que rompem barreiras após geralmente décadas de luterária, ou sustentados por um marketing que venderia a máxima mediocridade como obra-prima da humanidade.

     Não se está aqui fazendo reivindicação de traduções primorosas com imprescindível refinamento, posto que essas são dignas se competentes, como sói fazerem os tradutores brasileiros de obras estrangeiras. O que se põe na roda da reflexão espelha o interesse unilateral há pouco pontuado, seja em decorrência da indiferença literária, seja da famigerada “oportunidade comercial.”

     A questão está muito além dos “desvios” próprios da tradução, como deslocamentos semânticos, estruturas e pontuação heterodoxas, uso de gíria e linguagem regional ou de época.1 A falta de respaldo, reconhecem GOLDONI/MOLINA2, impediu-nos de desenvolver uma atividade mais contínua e nos obrigou a limitá-la à tradução de textos de curta extensão. Hoje, esta assertiva foi revogada pela profusão de lançamentos de livros estrangeiros. Confira-se na relação dos “mais vendidos” da semana ou do mês quantos são os livros de autores traduzidos.

     Não se nega a expansão bilateral de livros entre países como Brasil-Argentina, que têm até acordos institucionais para impulsionar os empreendimentos editoriais em tradições intralingüísticas. O que não se pode negar, todavia, é esse acordo ser pífio ou inexistente em outros países, mesmo de língua espanhola, o que concorre – e muito – para aprofundar o isolamento literário brasileiro em razão (também) do idioma português. É ínfima a obra de autores brasileiros no México, Venezuela, Uruguai, Caribe, Chile e Espanha.

     Em 1985, HALLEWELL3 afirmou que o crescimento editorial no mercado hispanófono teve efeito colateral para os autores brasileiros, uma vez que editoras agora prósperas, com ambiciosos programas para publicar obras literárias modernas traduzidas, passaram a se interessar, como parceiras latino-americanas, na inclusão da literatura brasileira contemporânea. Não se tem notícia dos resultados desses programas, ou que escritores brasileiros vivos tenham sido efetivamente beneficiados por eles. Alguém se lembra? Sabe-se, sim, que traduções foram feitas de obras brasileiras que integraram as coleções instituídas sempre com o designativo “os grandes” (romancistas, poetas, novelistas).

     O que se quer dizer, por ser o que realmente interessa, é que falta ao mercado editorial estrangeiro assimilar e ampliar a antropofagia oswaldiana da tradução de livros/autores brasileiros. Nesse sentido, a relação dialógica mantém-se unilateral. A produção brasileira carece de ser desprovincianizada por outros idiomas, impor-se pelo reconhecimento, o que inclui o leitor estrangeiro admitir o talento brasileiro para a ousadia, pela criação e o fazer diferença, cuja singularidade somente será possível com a desfronteirização. O autor brasileiro é ainda mantido como o terceiro-excluído, como o classificou Haroldo de Campos – aquele que não obstante seu talento inclusive transcriador, está incluído, por desconhecimento do leitorado “de fora”, a uma literatura menor.

     Não seria nenhuma utopia ou sonho impossível se o governo brasileiro, que tanta questão faz de valer-se de sua liderança latino-americana, instituisse o pagamento sistemático de tradutores, junto a editoras através do MEC, no mínimo em espanhol, de obras de autores nacionais recomendadas por critérios de avaliação de comissão bilateral.

     Não se pode negar que sem o incentivo apto a dar visibilidade à Literatura brasileira (na qual tem-se de incluir a produção científica), esta manter-se-á monolíngue, limitada em si mesma, “desterrada desde sempre”, ainda com Haroldo de Campos.

     Observem os leitores nas entrevistas impressas e televisivas com autores estrangeiros quantos brasileiros são citados e quantas vezes os citados são praticamente os mesmos , com pouca variação de nomes. Ao contrário, quem no Brasil tem o hábito de ler é capaz de citar acima de 10 autores estrangeiros, cujas obras gravitam em livrarias, cursos acadêmicos e telas de cinema e TV.

     A persistir a unilateralidade, poder-se-á comparar a situação do livro brasileiro à afirmação de Platão de que ele seria como estátua: “parece ser vivo, mas quando lhe perguntamos algo, não sabe responder.” E dessa forma ter-se-ia, “na impossibilidade do diálogo, não apenas a constatação do outro mas a constatação de que o outro é irredutível4.” Ou dotado de um agir comunicativo conveniente. E, assim, a obra brasileira ficaria, em nível externo, sujeita à perda de sentido “na representação da plenitude das demandas da cultura.5”

     “Como transcrever a fala engrolada de uns e o sotaque de outros?”, questiona a narradora do livro “Relato de um certo oriente”, de Milton Hatoum, o que levou SANTOS a se perguntar: como é possível a uma obra “ser para si e ser para o outro6”?

     Pode-se discutir a tese de que “entre o global e o local, a ideia de Cone Sul aos poucos vai se definindo como uma estratégia discursiva que favorece a migração de linguagens, idiomas e sentidos”, o que “permite formas de pertencimento a um espaço de ´significação descentrada, aberto a modalidades distintas de atuação narrativa7”. Ou até quando e em que limite ficará a obra brasileira, “na sua excentricidade histórica e geográfica” a reduzir-se a ser “metonímia da condição sócio-cultural periférica no processo de mundialização da economia8”?, como assinala Silvano Santiago.

Notas1.

GOLDINI/MOLINA, 2000.
2. ibidem.
3. HALLEWELL, 1985.
4. SANTOS, 2000.
5. ibidem.
6. ibidem
7. MIRANDA, 1998.
8. SANTIAGO, 2000, apud Santos, 2000.

Referência bibliográfica

SANTOS, Luís Alberto Brandão, PEREIRA, Maria Antonieta. Trocas culturais na América Latina. Belo Horizonte: Fale/UFMG, 2000.

Referências virtuais

AMORIM, Felipe. Qual a importância da literatura brasileira no resto do mundo? Disponível em: http://64.233.163.132/search?q=cache:kV5v1ZwcTOUJ:br:answers.yahoo.com/questi...

BRASIL, Ubiratan. A ficção nacional que cruza fronteiras. Disponível em: http://64.233.163.132/search?q=cache:sjUuAD-EbCoJ:caquiscaidos.blospot.com/20...

COELHO, Haydée Ribeiro. Diálogo e comparativismo: Brasil e países hispano- americanos no Suplemento Literário do Minas Gerais, 1974-1985. Disponível em: http://www.proec.ufg./br/revista_ufg/dezembro2008/diálogo.html

CONEXÕES Itaú Cultural. Gustavo Sorá – leitura para elites, tradução para todos. Disponível em: http://64.233.163.132/search?q=cache:g-rJFyW111wJ:www.conexoesitaucultural.org...

KRAPP, Juliana. Tanto a brasileira quanto a argentina são literaturas cerradas. Disponível em: http://64.233.163.132/search?q=cache:QCc-AyMiSzEJ:www.jblog.com.br/ideias.php...

LAJOLO, Marisa. O paraíso distinto de editores, autores e leitores. Disponível em: http://64.233.163.132/search:q=cache:GrFRjy6JIEIJ:observatorio.ultimosegundo.igc...

PLANO NACIONAL DO LIVRO E LEITURA. Bolsa de tradução de autores brasileiros. Disponível em: http://64.233.163.132/search?q=cacge:WGrXtBs295MJ:www.vivaleitura.com.br/pnll...

PONTES, Felipe. Como se percebe, se lê e se vende literatura brasileira no exterior? Disponível em: http://64.233.163.132/search?q=cache:AfcazHgBfWkJ:portalliteral.terra.com.br/imprj...

SPAGNULO , Marta. Tradução e política cultural na América Latina. Disponível em: http://www.revista.agulha.nom.br/ag60spagnuolo.htm

WERNER, Leiden. O fluxo de traduções do Brasil para o exterior: seis estudos de caso. Disponível em: http://64.233.163.132/search?q=cache:tzWXjLruQjYJ:www.livroehistoriaeditorial.pr...


Márcio Almeida é mestre em Literatura, professor universitário e jornalista, autor de diversas publicações, poeta e minificcionista, crítico de raridades. marcioalmeidas@hotmail.com

sábado, 1 de maio de 2010

TODOS TENEMOS HAMBRE

                         TODOS TENEMOS HAMBRE


Bien sabes que todos tenemos hambre: hambre de pan, hambre de
amor, hambre de conocimiento, hambre de paz...
Este mundo es un mundo de hambrientos.
El hambre de pan, melodramática, soflamera, ostentosa, es la que
más nos conmueve, pero no es la más digna de conmovernos.
¿Qué me dices del hambre de amor? ¿Qué me dices de aquél que
quiere que le quieran y pasa por la vida viendo en todas partes
mujeres hermosas, sin que ninguna le dé una migaja de cariño?
¿Pues y el hambre de conocimiento?
¿El hambre de pobre espíritu que ansía saber y choca brutalmente
contra el zócalo de granito de la Esfinge?
¿Y el hambre de paz que atormenta al peregrino inquieto, obligado
a desgarrarse los pies y el corazón en los caminos?
Todos tenemos hambre, sí y todos, por lo tanto, podemos hacer caridad.
Aprende a conocer el hambre del que te habla... en el concepto de que,
fuera del hambre de pan, todas se esconden. Cuanto más inmensas, más escondidas...


Amado Nervo
Livro: Plenitud.

TU ME QUIERES BLANCA, de Alfonsina Storni

TU ME QUIERES BLANCA


Tú me quieres alba,
Me quieres de espumas,
Me quieres de nácar.
Que sea azucena
Sobre todas, casta.
De perfume tenue.
Corola cerrada

Ni un rayo de luna
Filtrado me haya.
Ni una margarita
Se diga mi hermana.
Tú me quieres nívea,
Tú me quieres blanca,
Tú me quieres alba.

Tú que hubiste todas
Las copas a mano,
De frutos y mieles
Los labios morados.
Tú que en el banquete
Cubierto de pámpanos
Dejaste las carnes
festejando a Baco.
Tú que en los jardines
Negros del Engaño
Vestido de rojo
Corriste al Estrago.
Tú que el esqueleto
Conservas intacto
No sé todavía
Por cuáles milagros,
Me pretendes blanca
(Dios te lo perdone),
Me pretendes casta
(Dios te lo perdone),
¡Me pretendes alba!

Huye hacia los bosques,
Vete a la montaña;
Límpiate la boca;
Vive en las cabañas;
Toca con las manos
La tierra mojada;
Alimenta el cuerpo
Con raíz amarga;
Bebe de las rocas;
Duerme sobre escarcha;
Renueva tejidos
Con salitre y agua;
Habla con los pájaros
Y lévate al alba.
Y cuando las carnes
Te sean tornadas,
Y cuando hayas puesto
En ellas el alma
Que por las alcobas
Se quedó enredada,
Entonces, buen hombre,
Preténdeme blanca,
Preténdeme nívea,
Preténdeme casta.

                        Alfonsina Storni, poeta argentina
                                     1892-1938

DEDICATÓRIA, de Malba Tahan

                      DEDICATÓRIA


Escuta, beduína, escuta! Quando abandonaste a
minha tenda tomei do calã e escrevi o teu
nome na capa do meu Alcorão!

E todos os dias, no silêncio da prece, a saudade
vem, como o tigre dos juncais, bramir no fundo
de meu coração.

Es-san-aleija! A minha promessa, ó beduína!,
Não foi escrita na areia incerta do deserto.
Por isso, é que verás o teu nome repetido em todas
as páginas deste livro.

Só Allah sabe a verdade! Uassalã!


                 Oásis de Halib, 7 da lua de Rabiah de 1904.
                                      MALBA TAHAN

Na Luz, de Cruz e Sousa

Na Luz


De soluço em soluço a alma gravita,
De soluço em soluço a alma estremece
Anseia, sonha, se recorda, esquece
E no centro da Luz dorme restrita.

Dorme na paz sacramental, bendita
Onde tudo mais puro resplandece,
Onde a imortalidade refloresce
Em tudo, e tudo em cânticos palpita.

Sereia celestial entre as sereias
Ela só quer despedaçar cadeias,
De soluço em soluço, a alma nervosa.

Ela só quer despedaçar algemas
E respirar nas amplidões supremas,
Respirar, respirar na Luz radiosa.


Cruz e Sousa
João da Cruz e Sousa (Nossa Senhora do Desterro, 24 de novembro de 1861 — Estação do Sítio, 19 de março de 1898) foi um poeta brasileiro, alcunhado Dante Negro e Cisne Negro. Foi um dos precursores do simbolismo no Brasil.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Para ser grande, Fernando Pessoa

Para ser grande

Para ser grande, sê inteiro: nada
        teu exagera ou exclui
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
         no mínimo que fazes
Assim em cada lago a lua toda
        brilha, porque alta vive.


Fernando Pessoa
em Ricardo Reis



Este post é uma big homenagem à minha amiga evolutiva, minha irmã, minha mestra, Jocenice Ribeiro.
Jô Bahia, de luz radiante, trabalhadora de muita fibra, de carne e osso, de um coração do tamanho de sua
compreensão do mundo. Magic Jô. Trabalhamos juntas na Fundação Cultural Cassiano Ricardo.
Nós duas somos um caso sério, Lucas Lacaz.
Foi a Jocenice quem me "mostrou" o poema Para ser grande.
, axé e muita gratidão. Por tudo.

Tarde sertaneja, de Cassiano Ricardo

Tarde sertaneja

Eu ia andando pelo caminho
em pleno sertão, o cafezal tinha ficado lá longe...
Foi quando escutei o seu canto
que me pareceu o soluço sem-fim da distância...
A ânsia de tudo o que é longo como as palmeiras
A saudade de tudo o que é comprido como os rios
O lamento de tudo o que é roxo como a tarde...
O choro de tudo o que fica chorando por estar longe...
bem longe.

Cassiano Ricardo -
Quarto ocupante da Cadeira 31, eleito em 9 de setembro de 1937, na sucessão de Paulo Setúbal e recebido pelo Acadêmico Guilherme de Almeida em 28 de dezembro de 1937. Recebeu os Acadêmicos Fernando de Azevedo e Menotti del Picchia.
Cassiano Ricardo (C. R. Leite), jornalista, poeta e ensaísta, nasceu em São José dos Campos, SP, em 26 de julho de 1895, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 14 de janeiro de 1974. Eleito em 9 de setembro de 1937 para a Cadeira n. 31, na sucessão de Paulo Setúbal, foi recebido em 28 de dezembro de 1937 pelo acadêmico Guilherme de Almeida. Pã (1917) de 50 e 60. A sua obra Jeremias sem-chorar, de 1964, é bem representativa desta posição de um poeta experimental que veio de bem longe em sua vivência estética e, nesse livro, está em pleno domínio das técnicas gráfico-visuais vanguardistas.

Leia mais sobre vida e obra de Cassiano Ricardo no site da Academia Brasileira de Letras - http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=390&sid=295



Pedro, caríssimo,

Sobre a tristeza que a gente estava conversando ontem preciso te dizer algo.
Aqui em São José um músico maravilhoso, Joca Freire, musicou 10 poemas de Cassiano Ricardo + outra música que ele compôs fazendo uma mescla de vários poemas de Cassiano e + a voz do nosso poeta maior declamando Era em S. José dos Campos.
Tarde sertaneja é um desses poemas musicados. Liguei urgentemente pro Joca depois de ouvir o CD. Vou copiar pra você, não tem pra vender, acho que não. [Agora já tem].
Eu disse a ele: Joca, chorei e muito quando ouvi esse poema. Joca me contou que foi o primeiro poema do CD a ser  musicado.

Em outubro acontece aqui há 36 anos a Semana Cassiano Ricardo e todo ano faço palestras sobre vida e obra de Casssiano. Numa dessas palestras aos professores na escola Joaquim de Moura Candelária, -- agora moro perto dessa escola, --  declamei esse poema antes de apresentar o CD, falar sobre Cassiano Ricardo e Joca Freire.

Uma das professoras chorou muito ao ouvir. Teve uma catarse. Me emocionei. Liguei pro Joca e relatei o fato.Esse poema me faz lembrar Jung e o inconsciente coletivo. Acredito que nós, mesmo sem sabermos porque, temos essa tristeza. Assim como, não tem hora que a gente tem uma alegria besta sem que saibamos de onde vem?

Portanto, quero desdizer, amigo Pedrinho, quando disse ontem que temos de curtir a tristeza, mas com motivo. Não necessariamente. A gente acaba acessando algum núcleo interno. Nosso alma sabe porquê. Deus o sabe.

Resolvi postar o poema com o email enviado ao meu amigo de Santo André, Pedro Kowaliuskas, também poeta e declamador de poesias, até de Castro Alves e Lord Byron. E dirige o carro cantando músicas de Nelson Gonçalves em voz alta Sentiu firmeza?
Ano?  36a. Semana Cassiano Ricardo. I don't remember. Sorry! Preciso checar.

DEUS TE LIVRE, POETA

DEUS TE LIVRE, POETA...

Deus te livre, poeta,
de verter no cálice de teu irmão
a menor gota de amargura.
Deus te livre, poeta,
de interceptar sequer com tua mão
a luz que o sol presenteia a uma criatura.

Deus te livre, poeta,
de escrever uma estrofe que contriste;
de turvar com teu ar enfadonho
e tua lógica triste
a lógica divina de um sonho;
de obstruir o caminho, o intento
que percorra a mais humilde planta;
de destruir a pobre folha ao vento;
de entorpecer, nem com o mais suave
dos pesos, o ímpeto de uma ave
ou de um belo ideal que se levanta.

Tem para todo júbilo, a santa
simpatia acolhedora que o aprova;
põe uma nota nova
em toda voz que canta,
e retira, com teus sons,
um mínimo espinho em cada prova
que torture aos maus e aos bons.


Amado Nervo
Marzo, 1916.
Livro: Elevación.


Amado Nervo, pseudônimo de Juan Crisóstomo Ruiz de Nervo (Tepic, Nayarit 27 de agosto de 1870 — Montevidéu, 24 de maio de 1919), é poeta mexicano.

O romance O bachiller (1895) apresenta caracaterísticas naturalistas. Os livros de poemas Pérolas negras e Místicas (1898) têm características que indicam influência da poesia modernista.
 Obra
O bachiller (1895)
Pérolas negras (1898)
Místicas (1898)
O êxodo e as flores do caminho (1902)
Os jardins interiores (1905)
Em voz baixa (1909)
Serenidade (1914)
Elevação (1917)
Plenitude (1918)
A amada imóvel (1922)
Poesia de Amado Nervo - Canto XXIV


Fonte Biografia: Wikipédia, a enciclopédia livre.

DIOS TE LIBRE, POETA, de Amado Nervo

DIOS TE LIBRE, POETA...


Dios te libre, poeta,
de verter en el cáliz de tu hermano
la más pequeña gota de amargura.
Dios te libre, poeta,
de interceptar siquiera con tu mano
la luz que el sol regale a una criatura.

Dios te libre, poeta,
de escribir una estrofa que contriste;
de turbar con tu ceño
y tu lógica triste
la lógica divina de un ensueño;
de obstruir el sendero, la vereda
que recorra la más humilde planta;
de quebrantar la pobre hoja que rueda;
de entorpecer, ni con el más suave
de los pesos, el ímpetu de un ave
o de un bello ideal que se levanta.

Ten para todo júbilo, la santa
sonrisa acogedora que lo aprueba;
pon una nota nueva
en toda voz que canta,
y resta, por lo menos,
un mínimo aguijón a cada prueba
que torture a los malos y a los buenos.

Amado Nervo
Marzo, 1916.
Livro: Elevación.

Versos Amargos, de Abu Al-Ala Al-Maarrí

Versos Amargos

Erram todos: muçulmanos, cristãos, judeus,
Dois homens apenas formam a seita universal:
O homem inteligente, sem religião,
E o homem religioso, sem inteligência.

Nas suas igrejas, os cristãos recitam as Escrituras;
Nas suas sinagogas, os judeus salmodiam sua Thora,
Religiões que se tornaram simples seitas, todas iguais.
Cada credo lança o anátema sobre os adeptos dos outros credos

Não escolhi nascer,
Não posso impedir que envelheça ou morra.
Que mais posso escolher?


Não comas o que foi tirado do mar com violência, nem o alimento
proveniente de animais degolados.
Não te alimentes com ovos, pois as suas mães querem fazer deles
pequenos viventes, e não coisas mortas.
Não prendas os pássaros descuidados com armadilhas.
Não toques no mel das abelhas, que saíram de manhã cedo para
colhê-lo nas folhas odorosas.
Elas não o guardaram para servir a outros. Não o juntaram para fazerem
liberalidades.
Limpei minhas mãos de tudo isso.



Abu Al-Ala Al-Maarri (974-1078), nasceu na pequena aldeia Síria de Maarrat Na-Numan. Tinha quatro anos quando a varíola vedou seus olhos para sempre. Mas mesmo cego, “via mais longe do que os outros homens”, afirma um de seus biógrafos. Graças ao seu gênio e a esforços constantes, tornou-se um dos homens mais cultos de sua época e um dos filósofos mais profundos de todos os tempos.
A filosofia de Abu Al-Ala se distingue pelo pessimismo, o ceticismo, a predominância dada à Razão sobre a Fé, uma luta agressiva contra a injustiça e a estupidez, e uma compaixão infinita para com todos os seres vivos.


Depois postarei a fonte, Okay?

CANTO FÚNEBRE, de Edna St.Vincent Millay

CANTO FÚNEBRE


Não me resigno que na dura terra amantes corações sejam encerrados.
Assim é e assim será, como sempre foi na era mais distanciada:
Para as trevas lá vão os sábios e os belos. Coroados
De lírios ou de louros, lá vão; mas não estou resignada.

Contigo, dentro da terra, amantes e pensadores
Misturam-se com o pó anônimo revolvido.
Um fragmento do que conheces, de tuas dores,
Uma fórmula, uma frase rica, -- mas o melhor está perdido.


A resposta aguda e pronta, o riso, o amor, o olhar, o gesto.
Foram-se para alimentar as rosas. Belo e jucundo
É o lírio. Cheirosa é a rosa. Bem sei, mas protesto.
Mais preciosa era a luz em teus olhos do que todas as rosas do mundo.


Dentro, lá dentro no fundo das trevas da morte
Vão ter o belo, o meigo, o bom. No Silêncio do nada
Vão desaparecer o inteligente, o gracioso, o forte
Eu sei. Mas não aprovo. E não estou resignada.

Edna St.Vincent Millay
Tradução: Alphonsus de Guimarães Filho

Lista de Preferências, de Bertolt Brecht

Lista de Preferências

Alegrias, as desmedidas.
Dores, as não curtidas.

Casos, os inconcebíveis.
Conselhos, os inexequíveis.

Meninas, as veras.
Mulheres, insinceras.

Orgasmos, os múltiplos.
Ódios, os mútuos.

Domicílios, os passageiros.
Adeuses, os bem ligeiros.

Artes, as não rentáveis.
Professores, os enterráveis.

Prazeres, os transparentes.
Projetos, os contingentes.

Inimigos, os delicados.
Amigos, os estouvados.

Cores, o rubro.
Meses, outubro.

Elementos, os fogos.
Divindades, o logos.

Vidas, as espontâneas.
Mortes, as instantâneas.

Bertolt Brecht (1898-1956)
Tradução de Paulo César Souza

Oração para o Brasil

Deus do meu coração, Deus da minha compreensão, ilumina-me!
Que a nuvem negra que paira sobre o Brasil seja dissipada pelo Amor Divino, para que haja paz, saúde e prosperidade para todo o povo brasileiro, com ordem e progresso, compreensão e caridade.
Que a corrupção, a mentira e a criminalidade sejam extirpadas do nosso País pela espada de São Miguel Arcanjo!
Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que há de nos levar para a Eternidade, e por intercessão da Santíssima e Gloriosíssima Virgem Maria, Mãe de Deus.

Esta é uma oração muito apropriada, porque o Brasil é um País de maioria católica e Nossa Senhora é a Padroeira do Brasil. Assim, ao ser proferida contará com a força comprovada de uma egrégora nacional, que atuará juntamente com a Egrégora Rosacruz.

Fonte:
http://svmmvmbonvm.org/opusdei/entvelado.htm

Oração Rosacruz- AMORC

Deus de meu coração
Deus de minha compreensão
Criador e mantenedor de todas as coisas
em toda parte
E pai de todo gênero humano
Invocamos Tua presença aqui e agora
Harmoniza-nos com Tua alma única e universal
Infundi em nosso ser Tuas divinas energias
criativas, curativas e regenerativas

A Ti rendemos graça, porque reconhecemos que Tuas
divinas misericórdia e bondade
são devidas a todo bem que pudermos ter feito
E Te suplicamos que continue a nos prodigalizar
os benefícios de Tua luz, de Tua sabedoria, de Teu poder
de Teu amor, de Tua paz
para que possamos amanhã
produzir Bem ainda maior.

Que assim seja!

Ave Maria

Ave Maria

Ave Maria, cheia de graça,
O senhor é convosco!
Bendita sois vós entre todos os seres;
Bendito é o fruto da vossa essência, Jesus.
Bem-amada doce Santa Maria,
Mãe de todos nós!
Eu entrego meu coração e rendo devoção a vós.
Que possais libertar meus limites e sofrimentos
E revelar-me o que devo fazer
Para curar minhas ilusões e sempre manter
O conceito imaculado para os outros,
Bem-amada Mãe Maria,
Mãe de todos nós e do Cristo Cósmico.

A Paz Sétupla

A Paz Sétupla


Adaptação da Paz Sétupla do Evangelho Essênio da Paz.

“Gloriosa é a herança do Filho do Homem, pois só a ele é dado entrar na Corrente da Vida que o conduz ao reino de seu Pai Celestial.”

Antes disso, porém, faz-se mister que procure e encontre a paz com o corpo, com os pensamentos, com os sentimentos, com os filhos dos homens, com o conhecimento sagrado e com o reino da Mãe Terrena.

Pois em verdade vos digo, esta é a embarcação que carregará o Filho do Homem pela corrente da vida a seu Pai Celestial.
Ele precisa ter a Paz Sétupla antes de poder conhecer a paz que sobreleva o entendimento, incluindo o de seu Pai Celestial.

Para isso o Filho do Homem deve orar sem parar, para que o poder, a sabedoria e o amor reinem no seu corpo, nos seus pensamentos e nos seus sentimentos.

Oremos pois, como nos ensinou Mestre Jesus, oremos para conquistar a paz em nosso corpo.

“Pai Nosso que estás no céu, manda a todos os Filhos do Homem o teu Anjo da Paz,
e manda ao nosso corpo o Anjo da Vida, para que nele habite permanentemente.”
Amém

Buscai a seguir a paz com vossos próprios pensamentos, guiado pelo Anjo da Sabedoria, para construirdes uma ponte de luz por cujo intermédio chegarás a Deus.

Oremos pois para conquistar a paz em nossas mentes.

“Pai Nosso que estás no céu, envia a todos os Filhos do Homem o teu Anjo da Paz,
e envia aos nossos pensamentos o Anjo do poder, para podermos romper todos os limites.”
Amém

Buscai então a paz com vossos próprios sentimentos, invocando pelo Anjo do Amor,
a fim de que vossa família terrena se alegre e o que era discórdia e impaciência se transformará em harmonia e paz.

Oremos pois para conquistar a paz com nossos sentimentos.

“Pai Nosso que estás no céu, manda a todos os Filhos do Homem o teu Anjo da Paz,
e manda aos da nossa semente e do nosso sangue o Anjo do Amor, a fim de que a paz e a harmonia habitem em nossa casa para sempre.”
Amém

Buscai então a paz com os outros Filhos do Homem, pois todos são Filhos de Deus,
e compartilhai com eles todas as coisas, pois todas as coisas nos são dadas ao preço do nosso trabalho.

Oremos pois para conquistar a paz com nossos irmãos.

“Pai Nosso que estás no céu, envia a todos os Filhos do Homem o teu Anjo da Paz
e envia a toda a humanidade o Anjo do Trabalho para que, tendo já uma tarefa sagrada,  não peçam nenhuma outra bênção.”
Amém

Buscai então a paz com o conhecimento de tempos passados e, depois de ver com os olhos da sabedoria e ouvir com os ouvidos do entendimento, procurai ensinar a todos os Filhos do Homem a Lei Sagrada que leva a Deus.

Oremos pois para conquistar a paz através do conhecimento sábio dos nossos ancestrais.

“Pai Nosso que estás no céu, manda a todos os Filhos do Homem o teu Anjo da Paz
e manda ao nosso conhecimento o Anjo da Sabedoria para podermos percorrer os caminhos dos Grandes, que viram a face de Deus.”
Amém

Buscai então a paz com o reino da Mãe Terrena eis que ela está em vós e vós nela.

Oremos pois para conquistar a paz com nossa Mãe Terrena.

“Pai Nosso que estás no céu, manda a todos os Filhos do Homem o teu Anjo da Paz
 e manda ao reino de nossa Mãe Terrena o Anjo da Alegria, para que o nosso coração se encha de cânticos e alegria quando nos aninharmos nos braços Dela.”
Amém

Por fim, buscai a paz com o reino do Pai Celestial, pois o Filho do Homem só nasceu de seu pai pela semente e de sua mãe pelo corpo a fim de poder encontrar sua herança divina.

Oremos pois para encontrar a paz com nosso Pai Celestial.

“Pai Nosso que estás no céu, envia a todos os Filhos do Homem o teu Anjo da Paz
 e envia ao vosso reino o vosso Anjo da Vida Eterna, a fim de que possamos alçar-nos além das estrelas e viver para todo o sempre.”
Amém

Oh Mestre!
Trazei a tua terra o reinado da paz!

Eu dou a paz de tua Mãe Terrena ao teu corpo,
E a paz de teu Pai Celestial ao teu espírito,
E que a paz de ambos reine entre os Filhos do Homem.

Vinde a mim todos que estais cansados e sofreis em disputas e aflição!
Que a minha paz vos fortalecerá e consolará,
Pois a minha paz está excessivamente cheia de alegria.
Daí que Eu sempre vos saúde desta maneira:-

A paz seja convosco!

Saudai sempre assim, portanto, o vosso vizinho,
Para que sobre o vosso corpo desça a paz da vossa Mãe Terrena,
E sobre o vosso espírito a paz do vosso Pai Celestial!
E então encontrareis paz também em vós,
Pois bem-aventurados são os que lutam pela paz,
Pois eles encontrarão a paz do Pai Celestial.

E dai a cada um a vossa paz,
Como Eu vos dei a minha paz,
Pois a minha paz é a paz de Deus.
A paz seja convosco!


Shallon Ain Sof.

A Grande Invocação

A Grande Invocação

Do ponto de Luz na mente de Deus,
que flua Luz à mente dos homens,
e que a Luz desça à Terra.

Do ponto de Amor no coração de Deus
que flua amor ao coração dos homens,
que Cristo retorne à Terra.

Do centro onde a vontade de Deus é conhecida,
que o propósito guie as pequenas vontades dos homens,
propósito que os mestres conhecem e servem.

Do centro a que chamamos a raça dos homens
que se realize o plano de Amor e de Luz
e feche a porta onde se encontra o mal.
Que a Luz, o Amor e o Poder
restabeleçam o Plano Divino sobre a Terra
hoje e por toda a eternidade.

Amém.