sábado, 24 de outubro de 2015

Bélgica - poema de Manuel Bandeira



Bélgica

Bélgica dos canais de labor perseverante,
Que, a usura das cousas, tempo afora, 
Tempo adiante, 
Fez para agora e para jamais
Canais de infinita, enternecida poesia...

Bélgica dos canais, Bélgica de cujos canais
Saiu ao mar mais de uma ingênua vela branca...
Mais de uma vela nova... mais de uma vela virgem...
Bélgica das velas brancas e virgens!

Bélgica dos velhos paços municipais,
Úmidos da nostalgia
De um nobre passado irrevocável.

Bélgica dos pintores flamengos.
Bélgica onde Verlaine escreveu Sagesse.

Bélgica das beguines, 
Das humildes beguines de mãos postas, em prece, 
Sob os toucados de linho simbólicos. 
Bélgica de Malines.
Bélgica de Bruges-a-morta...
Bélgica dos carrilhões católicos. 
Bélgica dos poetas iniciadores, 
Bélgica de Maeterlinck
(La Mort de Tintagiles, Pelléas et Mélisande),
Bélgica de Verhaeren e dos campos alucinados de Flandres. 

Bélgica das velas ingênuas e virgens. 


               Bandeira, Manuel -  Do livro Estrela da Vida Inteira, O ritmo dissoluto, poema Bélgica.


Nenhum comentário:

Postar um comentário